Por Tayane
21/10/2025
Em 1948, Antonieta de Barros — educadora, jornalista e a primeira deputada negra do Brasil — sancionou uma lei em Santa Catarina que instituiu o Dia do Professor em 15 de outubro, quinze anos antes da data virar feriado nacional. Sua trajetória de vida e compromisso com a educação de base e a valorização dos docentes marcaram o cenário político-educacional do país.
Nascida em 1901 na então cidade de Desterro (hoje Florianópolis), Antonieta de Barros se tornou um símbolo de representatividade e luta pela igualdade. Como filha de ex-escravizados, ela enfrentou barreiras de gênero, raça e classe para se afirmar na cena pública, tornando-se, em 1935, a primeira deputada negra do país — e a primeira mulher parlamentar de Santa Catarina.
Durante seu mandato, Antonieta dedicou-se com particular atenção à educação, postulando que o acesso ao ensino e a valorização dos professores eram fundamentais para a transformação social. Em 12 de outubro de 1948, teve aprovada a Lei nº 145, que instituiu em Santa Catarina o Dia do Professor, celebrado em 15 de outubro como homenagem ao ofício docente. A data regional precedeu em quinze anos a oficialização desta homenagem a nível nacional (via Decreto Federal nº 52.682 de 14 de outubro de 1963). O reconhecimento nacional veio em 1963, quando o presidente João Goulart assinou a lei federal que estabelece a data em todo o país. A escolha do dia se inspira na lei de 1827, assinada por Dom Pedro I, que criou escolas elementares e definiu regras para o trabalho docente no Brasil.
Além desse marco, Antonieta fundou uma escola particular voltada a adultos em situação de vulnerabilidade, onde ministrava aulas de português e psicologia. Ela também atuou como jornalista, levando adiante pautas que valorizavam a cultura negra e a presença das mulheres na política. Sua citação para justificar o projeto da lei que instituía a homenagem aos professores resume seu pensamento: “Não há quem não reconheça, à luz da civilização, o inestimável serviço do professor”.
A legislação de 1948 e a própria pessoa de Antonieta localizam-se no cruzamento entre educação, política e questões de justiça social. Ao instituir um dia dedicado aos docentes, ela reafirmou a importância de quem ensina; ao fazê-lo sendo uma mulher negra num contexto de forte exclusão, ela quebrou paradigmas estruturais. Suas ações reverberam até hoje: o reconhecimento público dos professores, a luta por melhores condições de trabalho na educação e a valorização da diversidade nas representações políticas mantêm-se em pauta.
Em Santa Catarina e além, Antonieta de Barros é lembrada como precursora cuja vida e obra inspiram iniciativas de promoção da igualdade e resgate da memória de mulheres negras que fizeram história. A data de 15 de outubro, por isso, funciona como duplo marco: celebra a todas e todos que lecionam e reafirma o legado de uma mulher que abriu caminho para muitos.
Como a educação continua sendo instrumento de mudança, reconhecer histórias como a de Antonieta reforça a importância de manter viva a tradição da valorização do professor — e de reconhecer também quem, como ela, fez da política educativa uma causa.
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