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#Entrevistas#Literatura do Distrito Federal

Entrevista com o escritor Kuzman

Por Fernando Fidelix Nunes (2025)

Kuzman: Eu vejo minha obra poética (haicaística ou lírica) como uma prática de atenção ao tempo e ao lugar, uma forma de me inserir no mundo e estar entre os seres e as coisas como um igual: sem humanizar o que é da ordem das coisas nem ser por elas reificado. Assim, venho trabalhando nas duas direções: tanto em poemas que aprofundam a vivência com o meio social em que me insiro quanto na experimentação de outras possibilidades formais e temáticas.

É no contexto dessa poética que venho me revezando entre alguns projetos: 1) um livro de haicais oníricos, 2) uma coleção de retrancas (forma poética criada pelo poeta pernambucano Alberto da Cunha Melo) para explorar o imaginário da cultura pop, 3) uma série de poemas em forma livre sobre Brasília (a cidade real, a utópica e a distópica), 4) um poema mítico-narrativo, em três partes, sobre o embate da humanidade com a natureza.

Fernando Fidelix Nunes: Você é um dos organizadores de um clube de leitura de autores da Literatura do Distrito Federal. Como surgiu a ideia de criar esse clube? Como foi o processo de elaborar a curadoria desse projeto?

Kuzman: A ideia do clube de leitura de autores do DF surgiu como um desdobramento do projeto #LeiaBsb (@leia.bsb), idealizado e realizado pela jornalista e escritora candanga Maíra Valério. Em 2023, Maíra conduziu uma campanha bem-sucedida de doação de livros de autoras e autores locais para a Biblioteca Pública de Brasília. Daí para propor a leitura coletiva dessas obras - aproximando leitores dos próprios escritores - foi apenas um passo, resultado de uma parceria entre o Leia Bsb e o Coletivo Lendo Contos, do qual eu fazia parte. Lembro que Maíra resumiu muito bem o espírito do projeto ao constatar que “a gente tinha as estantes cheias de livros de autorias locais; só faltava agora quem os lesse”.

Na primeira e na segunda temporadas, os critérios curatoriais foram simples: discutir um conto de publicação recente de autoras e autores do DF. A partir desses critérios, levantamos nomes, entramos em contato diretamente com cada escritor e organizamos encontros muito profícuos em espaços culturais tanto do Plano Piloto quanto das cidades-satélites. Nessas edições, estiveram conosco Alexandre Arbex, Luiza Fariello, Maíra Valério, Cristiane Sobral, Paulliny Tort, André Giusti, Rosângela Vieira da Rocha, Beatriz Leal Craveiro, Maria Amélia Eloi, Gabrielle Alves e Leonardo Almeida Filho.

A partir da terceira e quarta temporadas (2024–2025), já em parceria com a Platô Livraria, ampliamos o escopo: passamos a ler obras integrais de autores e autoras em diferentes gêneros literários — poesia (Kuzman e Nadja Rodrigues), romance (Dan, Breno Kümmel, Ana Raja, Virgínia Ferreira, Fabiane Guimarães) e conto (Alexandre Arbex, Maurício de Almeida). Atualmente o clube está em recesso, mas em breve retomaremos os encontros para continuar fortalecendo a circulação da literatura produzida no DF, fruto de uma cultura viva e em pleno desenvolvimento.

Fernando Fidelix Nunes: Você acredita que o clube tem sido capaz de ajudar tanto autores a divulgarem suas obras quanto livrarias a valorizarem mais autores locais?

Kuzman: Sim, tivemos experiências muito boas de aproximação entre o público leitor e os autores e autoras. Pessoas de diferentes gerações se encontraram para compartilhar impressões, trocar vivências e descobrir afinidades inesperadas. Não raro, ouvimos relatos de como o contato direto com o escritor ou a escritora rompe bloqueios com a leitura e desmistifica a posição de quem se dedica à escrita.

A parceria com livrarias e espaços culturais da cidade também tem sido muito próspera. Ela se traduz não apenas em vendagens, mas sobretudo no cultivo de um senso de comunidade literária. Como disse uma das autoras participantes, “as pessoas vão juntando limo”: criam afetos, tecem relações e fortalecem vínculos que vão além do livro discutido em cada encontro.

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