Eu... FLORBELA ESPANCA (1919) O célebre soneto "Eu...", da poeta portuguesa Florbela Espanca, foi publicado pela primeira vez em sua obra de estreia, Livro de Mágoas, no ano de 1919. A coletânea marcou o início da trajetória literária de uma das vozes femininas mais importantes da literatura de língua portuguesa. EU… Eu sou a que no mundo anda perdida, Eu sou a que na vida não tem norte, Sou a irmã do Sonho, e desta sorte Sou a crucificada … a dolorida … Sombra de névoa tênue e esvaecida, E que o destino amargo, triste e forte, Impele brutalmente para a morte! Alma de luto sempre incompreendida!… Sou aquela que passa e ninguém vê… Sou a que chamam triste sem o ser… Sou a que chora sem saber por quê… Sou talvez a visão que alguém sonhou. Alguém que veio ao mundo pra me ver, E que nunca na vida me encontrou!